Mãos que fazem a história da moda com o algodão colorido orgânico da Paraíba
O solo do sertão da Paraíba é pedregoso. O sol é forte e o clima é seco. Raramente chove. Ainda assim o algodão colorido brota do chão porque resiste à estiagem.
Cultivado e colhido à mão por agricultores em Juarez Távora encontra terreno fértil para entrar na produção, circulação e consumo da moda sustentável produzida no Brasil, sobretudo em São Paulo.
O desenvolvimento do algodão colorido pela Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias – Embrapa levou cerca de duas décadas. Somente depois disso foi possível fiar e tecer este algodão agroecológico.
A expansão do algodão colorido tem início em João Pessoa, no centro histórico, pelas mãos de Francisca Vieira, CEO da Natural Cotton Color. Com o uso de malha, tecido plano e recursos artesanais da tipologia têxtil, ela vem criando coleções de roupas em seu ateliê e gerando uma demanda de clientes e profissionais que buscam moda com DNA brasileiro e inovação tecnológica.
O algodão que já nasce colorido está embebido da memória do ciclo do Ouro Branco, quando a Paraíba era referência mundial na produção e beneficiamento do algodão. O algodão colorido tenta restaurar este lugar na história trazendo a inovação de uma fibra que dispensa tingimentos e com o aval de produto agroecológico — sem uso de defensivos ou aditivos químicos.
Abrindo caminhos para a moda brasileira ética e sustentável
Foi a partir do diagnóstico de Geni Rodio Ribeiro, consultora credenciada do TexBrasil — programa de exportação da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT) — que Francisca iniciou o percurso pelas feiras de moda. Todo este trabalho já leva mais de uma década.
Geni, além de contribuir com adequação de produtos para o mercado internacional, colocou as mãos na indústria para influenciar e tornar viável o desenvolvimento de novos tecidos. É dela a ideia de um tecido plano de algodão colorido mais fino e também um jacquard que une o algodão colorido orgânico a uma poliamida biodegradável.
Antes, a consultora aproximou João Pimenta do algodão colorido. Como resultado, surgiu o desfile do estilista na SPFW41, em São Paulo. Com apoio de Geni, a marca João Pimenta — reconhecida pela criatividade no uso da alfaiataria — foi a primeira a inovar desenvolvendo tecidos mais finos. Em um dos padrões, o algodão aparece mesclado com resíduos (películas de vídeos e fitas k-7)
“O desenvolvimento de novos tecidos na indústria dinamiza o alcance aos mercados e traz perspectivas para que o campo continue produzindo algodão colorido orgânico.”
(Geni Rodio, consultora TexBrasil | ABIT)
Das mãos de Juliana Gevaerd surgem tricôs com os fios do algodão paraibano. Ela descobriu a pluma em uma feira de produtos orgânicos no pavilhão Parque Ibirapuera, em São Paulo. Francisca estava lá para contar a história da cadeia produtiva e sugeriu um teste com os fios.
A estilista revela que aderiu ao material por acreditar no propósito e em todo o trabalho que a Natural Cotton Color vem apresentando ao mercado. Sobretudo, por querer um produto com procedência e credibilidade. “A natureza e o respeito ao trabalhador foram sempre inspiração para a marca”, destacou. Assim, desenvolveu novas tramas em várias espessuras e criou uma griffe paralela denominada Juliana Gevaerd_Bio. Juntas, as marcas já expuseram na Alemanha, nos EUA, em Portugal e no Japão.
“O algodão colorido abre portas para conscientização, quebra paradigmas pré estabelecidos, agrega valores e parcerias.”
(Juliana, da Juliana Gevaerd_Bio)
Quem procura moda ética encontra o algodão colorido orgânico da Paraíba
Das mãos de Flavia Aranha surgiram diversas experimentações com o algodão colorido. Para a estilista, a origem da matéria-prima é algo fundamental em seu processo criativo. Das opções apresentadas ela já trabalhou com malharia, tricô e tecido plano. E sua principal motivação é a cadeia produtiva. “É uma honra trabalhar com um algodão orgânico brasileiro que estimula o comércio justo e a agricultura familiar”, diz.
O foco da marca Flavia Aranha é o tingimento natural, por isso, o algodão naturalmente colorido cria a possibilidade de oferecer aos seus clientes produtos sustentáveis a preços mais acessíveis, ampliando o mercado. Em sua loja, os clientes compram também tecidos da Natural Cotton Color no varejo. “Esta opção agrada o público jovem e estudantes de moda, que passam a ter uma opção de produzir seus próprios produtos com matéria-prima de valor socioambiental positivo”, justifica a estilista.
“Apoiamos a produção brasileira e a agricultura familiar. Ao incorporar o algodão colorido potencializamos o produto e a cadeia produtiva.” (Flavia Aranha)
O propósito da marca Tita Co. é o uso do algodão orgânico na elaboração de roupa íntima. Foi através das mãos da designer Luiza Bartz que o algodão colorido entrou na coleção “Parahyba”. E destaca o apelo sustentável do produto. “O algodão colorido dispensa tingimentos economizando uma quantidade enorme de água. Além disso, não polui o meio ambiente com os resíduos químicos do tingimento convencional”.
Luiza incluiu também em sua coleção rendas artesanais feitas pelas rendeiras do Cariri paraibano. As clientes comemoram o acesso a esta preciosidade. “São pessoas que buscam consumir de uma forma mais consciente, que querem tecidos mais puros, com menos química em contato com o corpo. Normalmente são pessoas que estão transformando o guarda-roupa em busca de marcas mais conscientes”, esclarece.
“O algodão colorido traz inovação e um toque especial para a marca que torna diferente por utilizar uma matéria-prima rara de encontrar.” (Luiza, da Tita Co.)
As mãos de Roberta Vernin Lomonaco também são pura delicadeza e criatividade. Ela transforma algodão colorido em roupas infantis. Buscando produtos 100% orgânicos e sustentáveis, ela encontrou a matéria-prima como base da marca Ecofante. Em suas criações realizadas em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, ela usa malhas de vários padrões e revela que encanta as clientes quando diz que o algodão já nasce colorido. “São mães que buscam o melhor para seus filhos e também se preocupam com o meio ambiente”.
“Quando conheci o algodão colorido me apaixonei pela história, processo e valores”. (Roberta, da Ecofante)
Francisca declara que apesar do envolvimento dos criativos de moda, o algodão colorido ainda é pouco conhecido no país, mas seu papel deve crescer e se tornar relevante para o setor. Para isso, ela se esforça para comunicar sobre a esta matéria-prima genuína e exclusiva. Desta forma, os profissionais terão conhecimento e acesso aos tecidos produzidos na Paraíba.
De acordo com a CEO, para atender a crescente demanda é preciso aumentar a produção. Para isso, a Embrapa e o Sebrae PB estão cadastrando e capacitando mais agricultores. A expectativa é aumentar a área plantada em 50% nos próximos dois anos.
“Trabalhar com agricultores, artesãos e estilistas é um luxo. Estou muito feliz.”
Francisca Vieira, da Natural Cotton Color
A Natural Cotton Color é uma marca de moda que tem se tornado um centro de informação. “Estamos dispostos a disseminar essa inovação para o mercado têxtil. Fazemos parte do Arranjo Produtivo Local (APL) do Algodão Colorido, por isso, o que está em nossas mãos deve ser compartilhado”. O principal objetivo é dar sustentabilidade à cadeia mantendo o campo sempre em produtividade. “São as mãos dos agricultores a parte mais importante da cadeia produtiva”, conclui.