Um desfile de moda sustentável no campo de algodão orgânico de Ingá

O município de Ingá, a 101 km de João Pessoa-PB, comemorou a produção de algodão orgânico em escala industrial convidando associações de agricultores, instituições públicas e privadas, imprensa e clientes para o “Dia de Campo”, no dia 12 de setembro. O algodão orgânico cultivado pela agricultura familiar em assentamentos rurais e comunidades quilombolas alcança 1200 quilos por hectare.

Para marcar a data, uma passarela de 80 metros foi instalada no campo e a Natural Cotton Color apresentou 16 looks para os convidados, emocionando a todos. “A ideia foi mostrar para os agricultores que o algodão que eles colhem se transformam em produtos nobres”, diz Francisca Vieira, CEO da marca de moda sustentável.

 

A importância do algodão para a cidade de Ingá, na Paraíba

Denominado ‘Ouro branco’, o algodão trouxe prosperidade para o município nas décadas de 1940. Na década de 1980, a cotonicultura passou por um momento trágico: a praga do bicudo acabou com a cultura em todo o país. Com isso, Ingá enfrentou grande êxodo rural. Agora, a meta do município é voltar a ser referência no Brasil como produtor de algodão orgânico para a produção de artigos de moda e de decoração sustentável.

Hoje, plantado com contrato de compra garantida com a Natural Cotton Color, tecelagens e outras confecções, Ingá tem atraído novos agricultores e o cultivo que começou em 2021 com cinco hectares, já alcança 46 hectares em 2022. O preço pago por quilo é o maior do Brasil. Com novas perspectivas, o campo vem atraindo mulheres e jovens. Em 2021, havia apenas uma mulher no campo, este ano já são 17.

“A retomada da produção em Ingá é um resgate cultural e histórico. Vamos colocar a cidade de volta no mapa do algodão do país”, anuncia Robério Lopes Burity, prefeito da cidade.

O cultivo é consorciado com milho, feijão e fava que funcionam como barreira de proteção, sobretudo, faz parte da estratégia da segurança alimentar. Além disso, as ruínas da antiga fábrica têxtil de 10.000m² que há no município de Ingá já foram desapropriadas pela prefeitura. A ideia é recuperá-las para transformar em indústria para beneficiamento e aproveitamento de todos os subprodutos do algodão.

A produção em Ingá envolve as comunidades de Pedra D’água, Distrito de Pontina, Sítio Pontina, Sítio Cutias, Fazenda São Paulo, Sítio Cururu, Fazenda Umatai, Sítio Pedra Lavrada e Sítio Piaba. Todos os trabalhadores são capacitados para a agricultura inovadora e agroecológica pela Empresa Paraibana de Pesquisa Extensão Rural e Regularização Fundiária – Emater. Desta forma, eles aprenderam que é possível enfrentar e vencer o bicudo sem usar veneno.

 

 

A expansão do projeto Algodão Paraíba atraiu a FAO e conquistou apoiadores

O próximo passo para expansão do cultivo é conseguir suporte do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) já que o banco apoia mini e pequenos agricultores de algodão em modalidade de financiamento e custeio associado ou isolado. As conversas estão avançando. No momento, o BNB já apoia o Dia do Campo, “principalmente pelo fato do algodão ter sido atividade pujante e tradicional em passado recente na região, além do forte apoio que a gestão pública do município de Ingá está proporcionando aos participantes da cooperativa”, justifica Nazareno Nascimento Félix, agente de desenvolvimento do BNB.

 

 

O projeto “Algodão Paraíba” para expansão de algodão vem chamando a atenção da mídia e atraiu a atenção da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO/ONU) que veio em comitiva para o Dia de Campo por meio do projeto +Algodão. Trata-se de uma iniciativa executada pela FAO que reúne o governo do Brasil, representado pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC/MRE) com instituições como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa – Algodão) e os países parceiros no âmbito do Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO.
“Constatamos em Ingá uma ótima qualidade técnica do algodão. A iniciativa do prefeito ao propor o ‘Dia de Campo’ é uma novidade porque agrega agentes do setor público e do setor privado e uma oportunidade de apresentar para os outros municípios da região novas soluções. Valorizamos, sobretudo, os que levam o algodão do pequeno produtor para o mundo por meio de pesquisas que geram novos tecidos e produtos de moda agregando ainda mais valor ao algodão. Nós estamos levando esse conhecimento e esta experiência para outros países da América Latina”, declarou Adriana Gregolin, coordenadora regional do projeto +Algodão.

A valorização do Labirinto – artesanato que é patrimônio cultural

Outra iniciativa é gerar valor para o artesanato típico da região e tombado como Patrimônio Cultural e Imaterial do Estado da Paraíba que é característico da região. O projeto “Labirinto de Ingá”, com iniciativa do prefeito Burity com mentoria de Francisca, reúne mulheres em novos caminhos para a técnica artesanal, que estava em decadência na região pelo baixo valor de venda.

O projeto ‘Labirinto de Ingá’ teve capacitação liderada por Janaína Alves, da Perfilar Labirinto. Entre outras ações, a ideia também é aproximar as mulheres das áreas rurais que moram distantes uma das outras, fortalecendo o senso de comunidade e de colaboração entre elas.

O Dia de Campo realizado pela Prefeitura de Ingá tem apoio do BNB, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae Paraíba), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai Paraíba), Empresa Paraibana de Pesquisa, Extensão Rural e Regularização Fundiária (Empaer), e Secretaria de Estado da Agricultura Familiar e Desenvolvimento do Semiárido (SEAFDS).

 

O DIA DE CAMPO foi realizado em 12 de setembro
LOCAL: Ingá – Paraíba
Imagens: Comparsa

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