Espedito Seleiro: o estilo nordestino do couro

Espedito Seleiro confirma: “Eu gosto de fazer diferente; fazer igual é muito fácil”. O mestre é o mais renomado artesão de couro do Brasil. Nascido em em Nova Olinda, no Ceará, filho, neto e bisneto de seleiros, ele é referência em talento e criatividade no uso do couro, desde a escolha da composição nas cores até os recortes detalhados na produção de selas, calçados e bolsas. Aprendeu o ofício com Antônio Seleiro, seu pai, homem popular no Cariri por ter produzido os sapatos para Lampião, o rei do Cangaço.
O visual produzido por Expedito Seleiro para os seriados e filmes ajudaram a marcar o visual do gibão de vaqueiro um ícone do Nordeste e associar a produção a seu nome. Além do cinema, a estética do visual dos recortes no couro e adereços de cangaceiro foi difundida pelo Brasil pelo cantor Luiz Gonzaga. O artista popular pernambucano — com milhões de discos vendidos — sempre usou a indumentária em homenagem ao vaqueiros do Nordeste.

Filme O homem que desafiou o diabo, de Moacyr Góes (2007). À esquerda, ator Marcos Palmeira, à direita Espedito Seleiro.
A entrada de Espedito no mundo da Moda começa na década de 1980, quando o diretor de uma organização educativa de Nova Olinda entrou na oficina e pediu para Espedito reproduzisse uma das sandálias de Lampião expostas em um museu local.
O mestre artesão, mesmo sem nunca ter feito uma sandália, topou e gostou por serem diferentes na estética e no uso das cores das sandálias naquela época. E assim começou a investir em fazer calçados e bolsas, o que rendeu muito mais dinheiro do que fazer “coisas de vaqueiro”, como ele diz. Em 2006, veio o boom. Os calçados de Espedito chamaram a atenção dos fashionistas depois que a marca Cavalera usou, naquele ano, algumas peças no desfile da SPFW.

Desfile da Cavalera no SPFW em 2006
Espedito Seleiro, foi reconhecido como “Mestre da Cultura” pela Secretaria de Cultura do Ceará, também recebeu, em 2011, a Ordem do Mérito Cultural — honraria outorgada pelo Ministério da Cultura. Em 2013 foi homenageado no Museu A Casa, em São Paulo, com a exposição: “Espedito Seleiro – da sela à passarela”.
Em abril deste ano, o mestre artesão fez parceria com dois designers brasileiros de fama internacional para criar a coleção “Cangaço“, uma linha de móveis de tiragem limitada para a Firma Casa que associa o clássica palha trançada do vienense Michel Thonet (popularizada no século 19) com o couro do mestre Espedito. O “diálogo de materias” foi mediado por Fernando e Humberto, os célebres Irmãos Campana.
Este ano, a estreia da Casa Cariri 2015, com 5.000 m² e mais de 40 ambientes em Juazeiro do Norte, no Ceará, Mestre Espedito é homenageado (de 21 de julho até 16 de agosto) por seus méritos no campo da cultura, moda e design.

Móveis feitos com os Irmãos Campana.
Abaixo, um vídeo sobre o trabalho do Mestre do Couro.
*Cangaço – movimento de nômades nordestinos que teve seu auge entre o final do século XIX e início do XX.
** Cangaceiros – nome atribuído aos membros desses grupos – considerados os bandidos mais perigosos do sertão brasileiro. A palavra “cangaceiro” faz alusão à canga, nome dado à uma peça de madeira utilizada nos animais para transportar utensílios. Estes homens, andarilhos, carregavam muitos utensílios, objetos e armas. Devido à bravura e audácia, muitas vezes estes homens eram vistos como heróis entre a população das pequenas cidades e vilas do sertão, que enfrentavam o descaso das autoridades e vivia em extrema pobreza.
também sou nordestino, moro em são paulo há mais de 26 anos, mas sou um fã incondicional de artistas como Expedito Seleiro que mesmo com a simplicidade e dificuldades locais, rompem barreiras por sua capacidade de inovar e criar novidades inimagináveis.
não podemos esquecer também de outros artistas semelhantes como: Patativa do Assaré, Mestre Vitalino e tantos outros.
É verdade, Fernando, são figuras icônicas e fazem parte do patrimônio brasileiro.
Um abraço!